17/04/2013 - 04h00
Os comentários da presidente
Dilma Rousseff sobre juros e inflação, feitos no primeiro dia de reunião do
Copom, causaram certo mal-estar no Banco Central, mas a avaliação é que as
declarações pelo menos não chegaram a ser ruins nem "engessam" a
decisão a ser tomada hoje sobre a taxa Selic.
Segundo a Folha apurou, a equipe do BC
considera que o "ideal" seria que ninguém do governo, inclusive a
presidente, fizesse avaliações sobre taxa de juros durante os dois dias de
reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) por causa de riscos de
interpretações erradas pelo mercado.
Principalmente num momento em que o próprio
governo admite que o Banco Central tem sua credibilidade questionada pelo
mercado e precisa reafirmá-la para recuperar seu poder de coordenador das
expectativas sobre os rumos da inflação.
O tom das declarações da presidente, contudo,
gerou uma leitura "até favorável" pela equipe do BC. Foi destacada a
frase de Dilma em que ela diz que irá atacar "sistematicamente" a
inflação.
Além disso, no discurso feito em Belo Horizonte,
técnicos consideram que a presidente sinalizou não descartar um aumento de
juros agora ao dizer que "qualquer necessidade de combate à inflação será
possível fazer num patamar menor", numa referência ao tamanho de uma
eventual alta dos juros.
Durante sua passagem pela capital mineira, a
presidente Dilma fez questão de dizer a interlocutores que o BC terá autonomia
para decidir o que fazer com a taxa Selic.
O Planalto, apesar de preferir que os juros não
subam, trabalha com essa possibilidade e torce para que a alta, se for
decidida, seja de 0,25 ponto percentual e não ultrapasse um ponto percentual ao
longo do ano, o que levaria a taxa dos atuais 7,25% para 8,25%.
APOSTAS
No mercado, analistas apostam que o BC pode optar
por um aumento mais elevado, de 0,50 ponto percentual, exatamente em razão do
clima de interferência política nas decisões do banco.
Dentro do BC, há um desconforto entre os técnicos
diante das declarações públicas sobre juros vindas de autoridades do governo,
como as da presidente na África do Sul, quando ela disse ser contra medidas de
combate à inflação que afetem o crescimento.
Esse tipo de comentário, segundo a equipe do BC,
prejudica o trabalho que o banco vem fazendo desde o início do ano de endurecer
seu discurso para tentar reverter as expectativas sobre os rumos da inflação.
Fonte: Folha on line por Luiza Bandeira
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