Quem tem um monopólio determina o preço. Então é o governo, como maior
acionista da petroleira, quem dita quanto a gasolina e o diesel vão
custar. E nos últimos anos ele tem mantido esse preço abaixo do que se
cobra no mercado internacional. Fazendo isso, o Estado pretende combater
a inflação. Natural. Com energia cara, a inflação decola - os gastos
extras das empresas com gasolina e diesel vão parar nas etiquetas de
preço dos produtos. E se a inflação decola, a economia degringola. Há
vários meios de tentar manter a in flação sob controle. Uns são
indiretos e complexos. Outros, mais simples. E um é tão direto que chega
a parecer tosco: garantir energia barata. A qualquer preço.
O problema, agora, é justamente o tal preço. A gasolina barata está
ficando cara o País. é que interferir dessa forma num mergado é algo tão
arriscado quanto mexer em um ecossistema. E controlar o preço da
gasolina tem um efeito colateral óbvio no "meio ambiente" dos
combustíveis: afeta o mercado do etanol. Basta olhar um dado que o
motivo salta aos olhos: mais de 80% dos carros vendidos a cada ano são
flex. Você escolhe se quer encher o tanque com álcool ou com gasolina.
Se ela estiver barata o bastante, você não usa álcool. E sem você a
indústria do Etanol morre.
O álcool, vale lembrar, só teve seu lugar ao sol depois da crise do
petróleo. O evento que explodiu na década de 1970 foi quase tão ruim
para a economia quanto o asteroide que caiu na Terra há quase 65 milhões
de anos foi para os dinossauros. Sem esse asteroide, por outro lado,
não estaríamos aqui. Como ele tirou os dinossauros do caminho, abriu
terreno para que nossos ancestrais, os mamíferos tivessem seu lugar ao
Sol. E deu no que deu.
Bom, com a crise do petróleo a gasolina ficou tão cara que ter um carro
era tão complicado quanto ser um dinossauro no day after do asteroide.
Mas o Brasil foi esperto: aproveitou a oportunidade para investir numa
espécie de "pequeno mamífero" do mundo dos combustíveis: o etanol. Deu
certo. O "dinossauro" petróleo até sobreviveu. Mas o álcool garantiu seu
lugar. Tanto que os próprios Estados Unidos, que sempre se orgulharam
de nadar na gasolina e hoje produzem quase todo o petróleo quanto a
Arábia Saudita, investiram pesado na produção de etanol, até se tornarem
os maiores produtores do mundo.
E o Brasil faz exatamente o oposto agora. Com o governo segurando o
preço da gasolina no braço, o que ele acaba fazendo é destruir o etanol
por aqui. Nos últimos três anos, a frota de carros subiu 20% . Doze
milhões a mais. Quase todos com motor flex, claro. E o que aconteceu? O
consumo de gasolina cresceu 50%. E o do álcool caiu 50%. Um pouco mais,
na verdade: despencou de um pico de 22,8 bilhões de litros (em 2009)
para 10,7 em 2011. E a corrida ladeira abaixo continua firme: 2012 deve
fechar abaixo dos nove bilhões de litros. Desse jeito, produzir álcool
no Brasil virou um mico. O lucro dos usineiros foi para o espaço. E a
produção, naturalmente, despencou. Tanto que já tivemos de importar
bilhões de litros de etanol de milho dos EUA (para suprir os 20% de
álcool obrigatórios na composição da gasolina).
Para um país que até o outro se dizia a "Arábia Saudita do etanol", é
uma situação constrangedora ter de importar álcool de tortilla dos
americanos.
Pior ainda. Nossas refinarias não dão conta dessa demanda louca por
gasolina que o preço controlado criou. E entramos numa situação
patética: sete anos depois de o governo declarar nossas autossuficiência
em petróleo, precisamos importar combustível a rodo. Hoje são mais de 3
bilhões de litros de gasolina por ano, contra 500 milhões em 2010. De
cada 100 litros de derivados de petróleo que consumimos, 15 vêm do
exterior.
Como Dilma Rousseff não é a "presidenta" do planeta, ela não apita pelos
preços lá de fora. E a Petrobrás tem comprado por R$ 4 para vender por
R$ 3. Aí não tem quem aguente. O prejuízo com as importações de gasolina
foi de R$ 5 bilhões nos últimos dois anos. Com o diesel, por sinal, o
rombo foi maior ainda: R$ 17 bilhões - só que aí o buraco é mais
embaixo: não dá pra substituir diesel por álcool. Mas esse vazamento de
dinheiro, por si só, também afeta o etanol. A própria Petrobras cortou
investimentos na área, para aliviar o caixa. Um dos projetos de que a
empresa abriu mão, por exemplo, foi de um etanolduto de mais de mil
quilômetros ligando regiões produtoras de vários estados - o que
diminuiria drasticamente os custos de transporte de álcool.
Assim fica difícil. E agora? O primeiro passo para a solução é liberar o
preço da Gasolina. Seria indigesto num primeiro momento, mas a
indústria do álcool ganharia força, já que a gasolina mais cara
aumentaria a demanda por biocombustível. Sem falar que é importante a
Petrobras se livrar de pelo menos parte das perdas. Porque se ela não
der conta de continuar importante tanto para vender com prejuízo e, para
completar a produção de etanol definhar de vez, uma hora pode faltar
combustível nos postos. Aí nosso crescimento econômico, que já está bem
travado, acabaria pior ainda: em risco de extinção.
Por Marcelo Pacheco
Fonte: Revista Superinteressante
carro a alcol todos vão ter um um dia.Etanol produto genuinamente nacional,mas o preço oooooooooooooo.
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